Canábis medicinal na idade pediátrica

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Edição abril 2025
Entrevista Dr. José Carlos Ferreira

A canábis medicinal está a ser a opção terapêutica para três patologias, que são responsáveis por crises epiléticas graves e de difícil controlo. O neuropediatra José Carlos Ferreira, da ULS Lisboa Ocidental e Hospital CUF Descobertas, destaca as mais-valias do tratamento. Mas, sendo membro do Conselho Consultivo Científico do Observatório Português de Canábis Medicinal, alerta também para a necessidade de haver mais investigação noutro tipo de epilepsias.

A síndrome de Dravet, a síndrome de Lennox-Gastaut e a esclerose tuberosa são doenças caracterizadas por crises convulsivas de difícil controlo. Atualmente, os doentes têm acesso, no hospital, a um medicamento à base de canábis medicinal, que lhes permite ter menos crises e mais qualidade de vida. Para o neuropediatra José Carlos Ferreira, a canábis medicinal trouxe uma nova esperança para crianças e jovens e para as famílias. “Os estudos realizados com canábis medicinal mostraram alguns resultados positivos em epilepsias difíceis”, realça.

Sendo ainda uma terapêutica que pode gerar alguns receios na comunidade médica, sobretudo na idade pediátrica, o médico enfatiza que “os doentes são todos diferentes e, obviamente, não quer dizer que seja solução para todos, mas é mais um medicamento que demonstrou alguma eficácia”.

O médico lembra que o recurso, por parte das famílias, a produtos com base em canábis já acontecia, anteriormente, quando não havia opção terapêutica. Exemplo disso, era o uso de óleos enriquecidos em canabidiol (CBD), no sentido de se controlar as crises epiléticas. A canábis medicinal veio, assim, dar uma resposta mais eficaz e segura, pelo menos nestas três patologias. “São produtos não controlados, apesar da sua possível toxicidade, que exigem vigilância, e que têm interações com medicamentos antiepiléticos, prescritos pelo médico”, alerta.

Apesar de tudo, admite que a sua visão em relação aos óleos se alterou ao longo dos anos, face aos efeitos benéficos que se verificam em várias crianças e jovens. “Não sendo um medicamento, aprovado e controlado pelo Infarmed, não posso prescrever, mas, atualmente, peço que me tragam o produto para ver a sua composição.”

Como acrescenta: “Não me oponho, não posso aconselhar, mas prefiro ver a composição, nomeadamente no que diz respeito à percentagem de CBD, para orientar na titulação da dose e para controlar os efeitos secundários.”

O neuropediatra considera que esta “não é a situação ideal”, mas, desta forma, consegue-se maior controlo, já que nem todas as epilepsias difíceis, nestas idades, têm indicação para canábis medicinal. Além disso, “as famílias também usam os óleos sempre que coexistem problemas de neurodesenvolvimento, por se verificar, em regra, uma melhoria da concentração e de determinados comportamentos mais irritativos”.

Contudo, frisa, “apenas o faço em casos de crianças com epilepsia, porque é a minha área de especialização, não posso fazer o mesmo quando o seu uso se cinge somente a perturbações do desenvolvimento.”

Face a estes e outros desafios, José Carlos Ferreira considera que, num futuro próximo, se deveria apostar em ensaios clínicos na idade pediátrica, nomeadamente sobre o uso de canábis medicinal noutro tipo de patologias. Os trabalhos de investigação também deveriam incluir os produtos à base de canábis. “A variabilidade do conteúdo em CBD nestes produtos não é totalmente controlada, além de que existem concentrações residuais de outras substâncias da planta, como terpenos que podem ter ou não, interação com o CBD, assim como outros canabinoides com efeitos também variáveis”, conclui.

 

Autor: MJG
Fonte: SaúdeOnline
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