Análogos de cannabinoides con potente actividad antitumoral en cáncer de pancreas

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Fonte: OncoBites
Autor: Diana Darriba

 

Comentários ao artigo “Pharmacological advances in cannabinoid-based therapies for pancreatic cancer: Preclinical efficacy of CCL-106 and its epimers”

Juan Carlos Mellídez Barroso

Médico Oncologista.

Introdução: O Cancro do pâncreas é uma das doenças oncológicas mais desafiantes na oncologia, dado o aumento constante da sua incidência e a sua alta taxa de mortalidade. Hoje o único tratamento eficaz (possibilidade de cura) é a cirurgia, a qual apenas é possível quando a doença está localizada no órgão (pâncreas) ou está circunscrita à proximidade do pâncreas. Na doença inoperável ou na doença metastizada, o único tratamento possível é a quimioterapia, a qual, apesar da intensa investigação desenvolvida, é pouco eficaz no ganho de sobrevida dos doentes.

Os derivados naturais ou sintéticos da Cannabis sativa têm demonstrado entre muitas outras utilidades, atividade anti-tumoral em vários estudos pré-clínicos já publicados.

É muito importante esclarecer o significado de “estudos pré-clínicos” e diferenciá-los de resultados em “estudos ou ensaios clínicos”, pois a literatura publicada e os comentários em meios de informação de grande difusão, pode causar mal-entendidos e confusões no leitor sem conhecimento em investigação médica ou biológica.

De forma muito geral, ensaios pré-clínicos são aqueles que são desenvolvidos no laboratório, em células ou em animais. No nosso caso, temos uns derivados sintéticos de cannabis que demonstram que, quando utilizados em culturas de células de cancro do pâncreas, produzem a diminuição do crescimento e até a morte destas células. O mesmo efeito acontece em cancros de pâncreas que se enxertam e crescem em ratinhos de laboratório. Mais ainda, os derivados de cannabis aumentam a eficácia quando combinados com a quimioterapia habitual. Devemos lembrar que, até agora, estamos a falar de células de carcinoma do pâncreas e enxertos em ratinhos. Isto não quer dizer que o mesmo aconteça em pacientes humanos portadores de cancro do pâncreas.

O título do artigo publicado poderia ser interpretado por um leitor menos atento como “cannabis é eficaz no tratamento do cancro do pâncreas humano”, o qual não é certo nem é o que demonstra esta investigação.

Comentários: Foi criada em laboratório a molécula CCL-106, e as moléculas similares CCL-114 e CCL-115, cuja estrutura clínica os define como canabinoides. O efeito destas moléculas foi testado em culturas celulares de adenocarcinoma do pâncreas (in vitro) e em ratinhos de laboratório nos quais foi enxertado um cancro do pâncreas geneticamente modificado (in vivo).

Os canabinoides testados demonstraram ser muito eficazes na inibição do crescimento quer das culturas celulares quer dos enxertos em ratinhos, o que demonstra a sua eficácia (repito, células de cancro e cancros de pâncreas enxertados em ratinhos).

Os autores demonstraram também que, quando estes canabinoides se associavam ao tratamento de quimioterapia habitual em cancro do pâncreas (gemcitabina + Nab paclitaxel e FOLFIRINOX), se potenciava a eficácia de ambos.

Resumindo, em estudos pré-clínicos, os canabinoides sintéticos CCL-106, CCL 114 e CCL-115 são eficazes na inibição do crescimento de culturas e de xeno-enxertos de carcinoma do pâncreas, e a eficácia é potenciada quando associadas aos tratamentos de quimioterapia atual.

Este estudo pode servir de base para futuras investigações até que se possa fabricar um medicamento (os medicamentos são muito diferentes das moléculas ativas), e, se demonstre a eficácia em animais de experimentação e, se confirme que a toxicidade do medicamento é aceitável. Uma vez superados todos estes passos, o medicamento poderá entrar em fase de experimentação clínica em humanos.

A investigação clínica em humanos deverá passar por sua vez em várias fases de investigação e validação e, no final, se tudo for positivo, após vários anos, muita investigação desenvolvida e muito dinheiro gasto nesta investigação, poderemos ter um novo medicamento, mais eficaz que os atuais, para o tratamento dos doentes com cancro do pâncreas nos nossos hospitais.

Resumo: o artigo comentado demonstra que os canabinoides CCL-106, CCL-114 e CCL 115, tem grande atividade biológica em culturas celulares e também contra enxertos de cancro de pâncreas em ratinhos de laboratório. Estes efeitos são potenciados quando associados aos medicamentos usados na quimioterapia atual.

Trata-se de uma grande notícia para o mundo da investigação na cannabis e também, no mundo da investigação da oncologia, onde futuros estudos se confirmarem, poderíamos vir a dispor de um medicamento mais eficaz para o tratamento do cancro do pâncreas avançado.

Ref: Ray K.P, Cruces W, Mzannar Y. et al. Pharmacological advances in cannabinoid based therapies for pancreatic cancer: preclinical efficacy of CCL-106 and its epimers. ESMO Gastrointest Oncol. 2025 September; 9: . doi:10.1016/j.esmogo.2025.100211.